terça-feira, 20 de julho de 2010

Quatro dias depois da biópsia

Quatro dias depois de ter feito a biópsia, foi assim que ficou. Coloquei bastante gelo, como indicado. A mama inchou um pouquinho no dia seguinte.Fiquei dois dias com um curativo de ponto falso, feito com esparadrapo. Esses hematomas são normais e já estão sumindo. Está mais intenso onde o soutien comprime a mama; o par de furinhos no centro da mancha amarela é onde foi introduzido o dispositivo de biópsia.São muito pequenos e fecharam logo. Apesar da mancha enorme, estou sem dor. O maior incômodo é uma feridinha redonda, na parte mais baixa da mancha, consequência de uma bolha embaixo do esparadrapo.

sábado, 17 de julho de 2010

A biópsia

Depois da tempestade, a tormenta. Depois de um BIRADS5, vem a biópsia. Sempre tive horror a biópsia, acho que é mexer em caixa de marimbondo. Mas não tem escapatória. Sem biópsia, não se sabe que tipo de tumor é, qual a invasividade, qual o melhor tratamento, qual a melhor cirurgia. Não se sabe nada. Então, não esperneie, faça a biópsia logo.
São três tipos, pelo menos. Na internet existe um trabalho muito legal de um médico radiologista do HC, Dr. Flavio Spinola de Castro, que mostra bem os três métodos. O trabalho foi feito para médicos entenderem, com certeza tem muita coisa lá que eu não entendo direito mas se tiver dúvida leve-a para o seu médico. Não fique com dúvida... Dúvida só atrasa.
A PAAF, punção aspirativa com agulha fina, é para nódulos que o médico acredita serem benignos, do tipo cisto, por exemplo, ou para checar os nódulos linfáticos. É uma injeçãozinha sem vergonha. Fiz uma vez faz muito tempo, no próprio consultório do ginecologista, que mandou o material para exame num laboratório.
A Core biopsy ou biópsia com agulha grossa (BAG) é feita com uma agulha mais grossa que é introduzida na pele por um pequeno furo (feito com bisturi). O médico introduz neste furo uma pequena sonda, com a agulha oca na ponta, e posiciona o dispositivo na borda do nódulo orientado pelo ultrassom. Quando está na posição, um gatilho dispara a agulha e neste trajeto, fica no interior oco dela uma tirinha com todas as camadas de tecido do caminho que a agulha percorreu.
A mamotomia ou biópsia assistida a vácuo é parecida, mas ela succiona o tecido de uma vez só. Ela tira fragmentos maiores, e dizem que pode sugar o nódulo todo se ele for pequeno. Quando existem muitas calcificações, ela dá um resultado mais confiável.
Quem vai escolher o melhor tipo é o seu médico junto com o radiologista. Eles vão conversar e decidir. Você entra com o peito e a coragem!
A que eu fiz foi a core ou BAG; foi tranquila, com anestesia local. Eu não senti nada além da primeira picada, que é menos dolorosa do que anestesia de dentista. Deu para acompanhar o procedimento pelo ultrassom, e ver o posicionamento da agulha, o disparo, tudo.  Depois do procedimento, fazem um curativo no furinho. Você tem que fazer compressas de gelo e ficar enfaixada por 24 horas, para não inchar. É ruim dormir com a faixa, mas nessa altura já somos super-fortes e sem frescura, se vier mel com abelha viva a gente engole... No dia seguinte fica dolorido e com hematoma, mas nem precisei tomar analgésico. Dorzinha vagabunda, um décimo de uma cólica braba...
Depois da biópsia, o material colhido vai para a análise anatomo-patológica, que vai dizer que tipo de células existem, se são cancerosas ou não, etc. Demora muuuuito esse resultado pra quem está explodindo de ansiedade. O que eu estou fazendo é fingir que não está acontecendo nada e aproveitar os próximos 15 dias para pôr a vida em ordem. Com tantas consultas e exames acabei deixando muita coisa acumular.

BIRADS

"BIRADS 5 - altamente sugestivo de malignidade"
Esse foi o texto que me bambeou as pernas. Acho que eu já desconfiava que tinha algo errado.
BIRADS é uma convenção, criada pelo American College of Radiology, a associação americana científica e profissional que estabelece os padrões de radiologia. A classificação BIRADS, que é a sigla para Sistema de Relatórios e de Dados de Imagens de Mama, é como os médicos convencionaram a forma de apresentar os resultados dos exames de imagem de mama. Assim, evitam interpretações erradas entre eles, e estabelecem uma forma bem confiável de comunicação. Antes, um médico podia ser gentil com o paciente e escrever um diagnóstico ruim de forma suave e delicada, que poderia ser mal interpretada pelo outro médico como se o problema fosse menos sério.
Com a classificação, não só eles se comunicam melhor mas estabelecem procedimentos padronizados com base nessa classificação. Isso ajuda a nós pacientes também, porque podemos entender melhor o que acontece conosco.
A escala BIRADS tem seis níveis.

BIRADS 0 significa que não é possível concluir nada; o radiologista precisa de mais informações, novos exames. Em geral, essa categoria é intermediária, dentro do procedimento, já que o radiologista vai tentar esgotar os seus meios para chegar numa conclusão.

BIRADS 1 é negativo, é o melhor presente do Papai Noel, é sua carta de alforria até o próximo exame de rotina. Significa que as mamas são simétricas, não há massas nem calcificações, todas as estruturas funcionais de glândulas, dutos e de sustentação estão lá bonitinhas. Abra um bom vinho, celebre, mas não deixe de fazer o seu próximo exame de rotina só porque você ganhou um BIRADS 1, porque só esses exames te mostram o que vai lá por dentro.

BIRADS 2 significa achados benignos. Também é negativo, mas um negativo que vem com achados ou alterações. O médico radiologista classifica assim porque ele quer sinalizar ao seu mastologista ou ginecologista que ele viu alterações, mas que elas são de um tipo benigno. Meu médico me disse que na medida em que a idade avança, as glândulas que produzem o leite vão murchando, criando tecidos mais fibrosos, aparecem calcificações nos vasos sanguíneos, formam-se cistos com gordura ou leite, e essas coisas são normais, acontecem com todo mundo. Essas alterações todas têm características muito bem conhecidas dos radiologistas, e eles sabem diferenciar uma coisa da outra. Isto é, existem "achados radiológicos" mas eles não são nada assustadores. Então, abra um bom vinho, melhor que o outro, porque você provavelmente vai estar mais velha e mais poderosa...

BIRADS 3 é um achado provavelmente benigno, mas que deve ser acompanhado. É mais ou menos a mesma coisa do nível 2, com uma alta probabilidade de ser benigno, mas vale a pena olhar com mais cuidado. Pelo que eu entendi do que andei lendo, o achado parece-se com alguma alteração benigna mas tem qualquer coisa que deixa o radiologista desconfiado.  Nesta categoria vale a intuição do médico, porque como a classificação BIRADS é muito recente, ainda não há dados para se saber sobre a evolução desses achados. Não deixe de abrir o vinho, e volte na hora certa para o acompanhamento.

BIRADS 4 é uma suspeita de anormalidade. Os seus médicos vão te pedir uma biópsia. Existe uma lesão que não tem todas as características, mas existe uma clara probabilidade de ser maligna. Seu médico vai decidir qual a melhor biópsia para o seu caso, mas não fuja dela. Se der negativa, abra seu vinho; se der positiva, abra do mesmo jeito porque você descobriu cedo e vai curar o câncer.

BIRADS 5 é muito provavelmente um câncer. O seu médico vai aconselhar as ações que você deve tomar, que provavelmente incluirão a biópsia. Aí é que você deve mesmo abrir o melhor vinho que você tiver. Depois de um BIRADS 5, você vai se encher de força e de coragem, e cada dia seu vai ter uma "quantidade de vida" imensa. Você vai viver intensamente, celebrar cada minuto na direção da sua cura, provavelmente vai querer chutar tudo o que detesta e curtir imensamente as pessoas que você adora. Pelo menos é o que está acontecendo comigo hoje.

Tatuagens

Eu não sabia o quanto era vaidosa e o quanto eu curtia meus enormes decotes, até pensar que uma cirurgia poderia remover parte ou o seio esquerdo inteiro. Perdi o sono e fui pesquisar como fica o tórax sem uma mama. Esquisito, desbalanceado, quase grotesco. Mas tem gente que sempre sai por cima. Achei essas tatuagens lindas que fizeram para esconder a cicatriz. Acho que facilita muito a vida para a gente se olhar no espelho.

A imagem saiu desta página aí, ainda não sei colocar link em imagem. Mas na página tem um texto legal, vale a pena visitar: http://www.upstate.edu/bioethics/thehealingmuse/05_muse/05_bsa_breast.php



Veja essa outra, que formidável! A foto está em http://quigleyscabinet.blogspot.com/2009/04/mastectomy-tattoos.html .Visite o post e leia frases das mulheres que resolveram transformar a cicatriz numa coisa bonita de se ver, ainda que seja só por você mesma.




Mais delicada mas com muita força é essa, que aproveita o ziguezague da cicatriz.

Começou assim

Estou com 49 anos agora. Fui fazer meus exames de rotina e me acharam uns cogumelos. Uns miomas pequenos, um cálculo renal, algumas má formações que eu já sabia que estavam ali. E a surpresa. Desconfiaram do nódulo que eu tinha na mama esquerda. Aí começou.

Na verdade, já tinha começado bem antes. Depois de amamentar o meu mais novo por 1 ano e dois meses, meu leite demorou a secar. Acho que depois de um ano e pouco, em 1992, me apareceu um nódulo dolorido na mama esquerda. Fiz meu primeiro ultrassom de mama. Tudo normal, nada visível no exame, mas o nódulo estava lá, eu conseguia sentir. Eu tinha 31 anos nessa época.

Em 1995 uma amiga querida teve um câncer de mama. Acho que aquilo me deixou preocupada, afinal eu tinha um nódulo palpável e não estava cuidando dele. Lá fui eu para o médico, reclamar do nódulo, e fui fazer a minha primeira mamografia. Dessa vez eu estava melhor de vida, fui para um laboratório particular que me espremeu muito, com muita grosseria, e lá estava o meu nódulo. Era um nódulo denso, na mamografia, e um cisto mamário no ultrassom.

Pânico total... minha avó morreu com câncer de mama. Minha mãe sempre foi neurótica e procura há 75 anos um câncer que ela nunca teve. Nessa hora, eu chorei muito... total falta de informação. O médico era um senhor já idoso, distante, enigmático, superior. A internet ainda não era o que é hoje. Ele me fez uma punção e uma análise do líquido que deu negativa. E o veredito - acompanharás esse nódulo de perto, de seis em seis meses.

Eu estava retomando a minha carreira, depois de ter parado por dois anos para cuidar do pequeno, estava começando a ter alguma projeção e importância. Tinha conseguido um emprego legal na minha área, Administração. Achando que eu ia morrer logo, abri mão dos projetos que estavam começando, abri a loja para ter mais liberdade, fui cuidar dos meus filhos que eram e são tudo de bom pra mim. Mas não morri... E o médico cobrando o acompanhamento, e eu fugindo. Até 1997.

Em 97 não deu pra fugir mais, o nódulo continuava lá. Fiz a segunda mamografia, terceiro ultrassom. Para a mamografia, tênue imagem nodular, para o ultrassom, mais um cisto, no mesmo lugar do outro que tinha sido drenado em 95. O que é isso, uma área produtora de cogumelos? E o médico, lá de seu alto trono, repetirás o exame em mais oito meses.

Obedeci. Comecinho de 98, já desesperada de novo, voltei à clínica para mais uma dobradinha. Eu continuava dividida... vou morrer e paro tudo para curtir a vida ou me lanço na vida e esqueço de tudo? Passei um pouco dessa angústia para o radiologista. É que eu acabei tendo um xilique na clínica, e cobrei uma posição definitiva - ou vocês me mandam daqui para a cirurgia ou vocês me liberam dessa chatice de acompanhar uma coisa sem fim. E....? O nódulo sumiu!!!  O laudo acusa total normalidade (mas ele estava lá, o tempo todo).

Aí eu sumi também... Quatro anos depois, mudei de médico e a nova médica me pediu o famigerado acompanhamento. Em 2002, lá estavam os cistinhos de 97, nenhuma lesão sólida visível. Achados benignos, BIRADS2. Na palpação, o nódulo continuava lá. E ela me explicou, são tecidos normais para a mulher da sua idade... antigamente se chamava displasia. Não é nada, vá cuidar da vida.  Oba... fase boa da vida... fui fazer mil coisas boas, curti muito, tive um acidente, me recuperei dele, a loja cresceu, diminuiu, cresceu de novo, diminuiu de novo...

E voltei à gineco, agora toda responsável, em 2004. De novo BIRADS2, plantação de cogumelos à toda, cheia de cistos pra todo lado. E o nódulo continuava lá.

Aí a vida foi complicando um pouco mais... 2006 passou voando, super envolvida com o trabalho, com os filhos moços, nem vi. E 2007, 2008, 2009, cada vez mais estresse, cada vez mais compromissos financeiros, acumulando meu trabalho e o que me cabia da empresa do meu marido, os pais envelhecidos com problemas de saúde, os filhos em vestibular, o marido começando crises de pânico. No começo de 2009, uma tireoidite me avisou que eu tinha esquecido de mim.  A vida tinha ficado muito complicada e a minha carga ficou muito pesada. As finanças foram para o brejo... dureza.

Chegou 2010, resolvi dar um tempo porque cansei. Planejei uma licença de tudo para pensar na vida e recompor as forças. Viajar uns tempos, só nós dois, antes de recomeçar. E vamos lá checar a saúde antes...

Tava lá o cogumelo. Dessa vez, BIRADS5. No mesmo lugar. Hoje fiz a biópsia pela manhã, estou enfaixada sem conseguir dormir.

Depois eu conto mais detalhes desse cogumelo.