terça-feira, 31 de agosto de 2010

Plantação de cogumentos

A ressonância é boa para mostrar coisas pequenas que escapam da radiografia. Parece que tem mais alguma coisa na mama esquerda que os médicos não sabem o que é. Pelo jeito, vou repetir o ciclo espera-ultrassom-espera-biópsia-espera-anatomopatológico... quando acabar esse ciclo, será que não vai ter nascido nenhum outro cogumelo?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Demônios e o seu espaço

Se até agora a luta contra o câncer tem me revelado muitos anjos, agora aparecem alguns demônios, como não podia deixar de ser. O mundo não é nada cor-de-rosa.
Pessoas que menosprezam o seu sofrimento (de alma, ainda que o corpo não doa) são fichinha perto das que querem te enterrar. Algumas pessoas se acham no direito de tomar decisões por mim, como se eu não existisse. Outras se apressam para que eu defina logo a minha situação, para ocuparem o meu espaço no trabalho, em tudo que eu faço. Outras querem te visitar, com a maior cara de preocupação, sendo que nunca telefonaram para te cumprimentar no aniversário, como se eu não pudesse morrer sem tê-las visto.
Obrigada mas não, obrigada. Estou muito bem, muito consciente, muito capaz. Estou cuidando muito bem da minha vida e das coisas que eu sempre cuidei.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Isso não é nada

O câncer de mama é uma doença bastante comum. Quase todo mundo conhece alguém que tem ou que teve, e na grande maioria dos casos, graças a Deus, essas pessoas estão bem, curadas. É portanto comum que as pessoas cheguem para você e digam, "Isso não é nada..." Às vezes, as pessoas dizem isso para você ficar mais tranquila com os vários casos de cura; outras, no entanto, dizem a mesma frase insinuando que você está sendo uma fresca de estar preocupada, fragilizada, sensível. Que você não tem nada que ficar triste, que isso não é motivo para você chorar quietinha no seu canto.
Quem diz isso muito provavelmente não teve câncer. Deve ter convivido com uma de nós, verdadeiras turbinas de força, que nos amarramos com cinta de aço para não despedaçar e espalhar os cacos em volta. E fomos tão convincentes que quem nos rodeia de fato pensa que não é nada! É uma coisinha à toa!
Ter câncer, curável ou não, é foda. É muuuuuito ruim.  A gente enfrenta a doença com muita força e coragem, com disposição e com muita fé porque sabemos que a nossa vida depende demais desta atitude. Se você abaixar a cabeça, o câncer te vence!
Mas, por favor, não venham me dizer que não é nada! Eu prefiro ouvir, "puxa, que legal que você está enfrentando isso com coragem". Ou "você vai sair dessa, mas eu imagino o que você deve estar passando".  Porque se uma pessoa me diz não é nada, acho que ela não ficaria triste se eu desejasse que ela tivesse a mesma coisa... ou ficaria?

sábado, 14 de agosto de 2010

Meu marido

Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. É nessas horas que a gente sabe com quem se casou. Meu marido tem sido meu apoio, meu companheiro, guerreiro até as últimas consequências. Ele tem um jeito alegre, conversador, faz amizade fácil com as pessoas, agrada todo mundo - e me abre as portas, os corações, a boa vontade das pessoas. Toma iniciativas, marca exames, conversa com os médicos, troca idéias, consegue consultas, informações. Ele se faz de forte, mas eu sei o quanto ele está ansioso, até mais que eu. Há momentos em que ele despenca a falar. Há momentos que ele some, vai andar na rua, quer ficar sozinho. É quem me aconchega, quem me sorri o tempo todo, ao mesmo tempo que me provoca e me faz sentir que a vida não mudou em nada, que tudo vai continuar a ser como sempre foi.
Dos anjos que eu tenho encontrado, o maior deles está ao meu lado. Obrigada, meu amor.

Ressonância, show de rock

Meu primeiro exame no novo hospital foi uma ressonância magnética. Nunca tinha feito antes. A ressonância de mama obriga você a deitar de barriga para baixo, com os peitos pendurados dentro de uma cavidade. Dura cerca de 40 minutos durante os quais você precisa ficar imóvel. Não é nenhum absurdo de tempo, nem o bicho de sete cabeças que as pessoas falam. Não vi nenhuma razão para claustrofobia, nem estando o tempo todo com o rosto para baixo sem poder ver nada do que se passava à volta.
As figuras mostram primeiro o equipamento, que é um imã gigante, depois a cama na qual nós deitamos de barriga para baixo. Aquela elevação é para ficar mais confortável, e as mamas ficam penduradas, soltas, no espaço azul da outra figura. Não são apertadas como na mamografia, apenas encostam um apoio para elas não balançarem e atrapalharem o exame. Seu rosto fica apoiado no suporte mais à direita da imagem. Não é desconfortável; os equipamentos mais modernos vêm sendo feitos para respeitar o conforto das pessoas que os usam.

O som, ah isso sim é uma super experiência. Som alto, em frequências diferentes e em ritmos diferentes, repetidos, alternados. Um verdadeiro show. Se tivesse luzes e mais uns instrumentos não ficava nada atrás de um bom show de rock! Veja um exemplo do tipo de som. É curtinho, lá dentro dura muito mais.



O que você pode fazer lá dentro, enquando ouve esses sons? Ocupe a sua cabeça, para não se incomodar com o barulho. Eu me lembrei do Crocodile Rock do Elton John, Pink Floyd, Linkin Park. Reze. Pense nas coisas boas que você fez. E acredite que vale a pena você ficar quietinha, primeiro porque não vai precisar repetir o exame e segundo porque ele é super importante.

O exame em si é um exame complementar aos demais. A ressonância capricha nos tecidos mais moles, então é útil para :
  • verificar o exato tamanho do tumor, permitindo que os médicos preservem ao máximo o tecido da  sua mama;
  • mostrar se há outros tumores que ficaram escondidos nos demais exames, principalmente nas cirurgias que vão preservar a mama;
  • identificar tumores que não foram percebidos antes, principalmente quando a mama é densa (desvantagens das mulheres peitudas, como eu)
  • verificar se o câncer invadiu as paredes do tórax
  • acompanhar os efeitos da quimioterapia
Na primeira fase do exame, ele é feito sem contraste. Nessa fase, ele mostra hematomas, nódulos linfáticos, próteses de silicone arrebentadas, cistos, dutos aumentados (eu tenho um...). Já com o contraste (aquele que dá impressão que você chupou prego enferrujado), o exame mostra mais aspectos da irrigação de sangue na mama. Como os tumores malignos em geral constroem seus vasos sanguíneos, eles ficam ressaltados na imagem. Veja só essa imagem, que espetacular.

Atendida, finalmente.

Estou super feliz de ter sido chamada para o hospital que vai me tratar. A médica que me atendeu ontem na primeira consulta foi mais um anjo, delicada e ao mesmo tempo objetiva. Esclareceu que no meu caso se aconselha a remoção cirúrgica do nódulo e depois radioterapia e quimioterapia, ainda não sei em que ordem. A quimio é necessária porque é grau 3, o que quer dizer que é um tumor que cresce rápido. Serei operada em setembro provavelmente.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sem metástases

A tomografia de corpo inteiro não acusou metástases. A notícia veio por telefone, o anjo que é a médica mastologista que me atendeu no 1o. hospital ligou e me deu a notícia pessoalmente. Que Deus abençoe as mãos daquela mulher.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Angústia

A espera é terrível. Estou há cinquenta dias indo de um médico para outro, de um hospital para outro. Até agora fiz exames, mas nada do tratamento começar. O hospital onde vou me tratar me deu uma perspectiva de me atender em consulta em mais 40 dias, e mais quatro meses para começar a me tratar... até lá, meu câncer já vai ter crescido, minha doença vai mudar de estádio, tudo vai se complicar muito.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Anjos da guarda

Eu estou muito impressionada com as pessoas que estou conhecendo neste processo todo de diagnóstico do câncer. Cada médico, enfermermeiro, atendente, telefonista, cada um que me atende tem um sorriso, um carinho, um gesto de amizade e de solidariedade. Peço perdão a todos que num dia de mau humor eu possa ter tratado com pouca atenção. Se toda dificuldade é uma oportunidade, esta é a de aprender a ser gente. Lição difícil...

Procurando cogumelos

Hoje foi o dia da tomografia de corpo inteiro. Faz parte do procedimento de estadiamento, que vai dizer qual o estágio do câncer. Dependendo do grau, o tratamento muda. Foi um exame bastante rápido, sem complicações.

domingo, 1 de agosto de 2010

Laudo histopatológico

Nem o mais experiente desvendador de hieróglifos com toda a internet à mão é capaz de entender completamente o que vem num laudo desses. Aí vale toda a experiência do médico...
A minha biópsia confirmou o câncer. É do tipo mais comum, pelo que descobri: "carcinoma ductal invasivo da mama", o que significa que foi uma célula que compõe os canais que levam o leite que pirou; invasivo porque suas cópias desvairadas não se restringiram ao duto e ameaça tomar conta. Existe um grau histológico que é dado em várias escalas - a escala adotada no Brasil é a Nottingham, que vai de  1 a 3, sendo 1 o tumor mais bem comportado e 3 o mais ameaçador. O câncer de mama é, em geral, dos bravos, tipo 3. O meu é assim. A boa notícia é que não foram detectadas, na amostra "infiltração perineural ou invasão angiolinfática" e isso quer dizer que o tumor ainda não avançou sobre os nervos nem achou o caminho para se espalhar pelo sistema linfático, que é o meio de transporte preferido dele.
Alguns termos ainda são obscuros para mim: "tecido mamário adjacente com alteração de células colunares sem atipias e focos de hiperplasia ductal usual discreta".